Lydiane Vasconcelos

Tenho poucos retratos das minhas avós jovens. Minhas memórias delas são palavras e gestos, como o ato de pentear os longos fios brancos, trança-los ou deixa-los secar ao vento. Herdei delas e da minha mãe uma série de silêncios e uma forma de compreender o amor. Nessa série fotográfica busco através das palavras que me foram ditas, costurar imagens que não vivi, fotografar lugares que as minhas avós e mãe pisaram, refazer em cianotipias: arquivos familiares, arquivos privados e autorretratos. Na minha costura diferente dos meus tios e pai, não uso linhas, agulhas e tecidos, nessa busca de entender os conceitos de culpa e amor que herdei vou abotoando silêncios para fechar a camisa do tempo. Nesse alinhavado constante vou em um vai e vem com meu corpo e memórias me autoficcializando para que as imagens gritem o que por tanto tempo calei. Essa organização, busca representar a experiência o conceito de amor que herdei, bem como as lacunas existentes entre a experiência vivida pelas as minhas avós, mãe, e as narrativas que me foram contadas. As imagens longe de desvendar as experiências, atuam como retalhos da memória, que é falha e lacunar não comunicando a totalidade da história, manipulo, apago, risco a herança que me foi passada. Abotoando esses silêncios sigo, abrindo outros caminhos, ressignificando o amor, cortando essa herança que me habita. Aprendi com as minhas avós e mãe que o amor é silencioso, é queda. A queda como o fim do amor ou término do vínculo; a queda em consonância com um homem que nunca está presente.

Contato: lydianebatista@yahoo.com.br